LIVROS E PUM

8cvyviing0cjxe9qk9cxvgf4x

Fui convidado a participar de um bate papo com escritores em uma biblioteca comunitária aqui em Salvador. A biblioteca fica no Retiro. Disseram: no começo da ladeira. Pedi um táxi. A ladeira do Retiro é gigantesca, uma das mais íngremes da cidade da Bahia.

Você ia se lenhar se descesse aqui, disse o motorista dando uma gargalhada. Esse povo indica tudo errado. Num calor desses, mesmo assim sendo seco (magrinho), você ia chegar lá todo suado!, completou.

Claro, claro, eu disse com um sorriso amarelo.

Chegamos.

Cheguei pontualmente.

Quando começou foi uma festa: crianças bagunçando tudo e adolescentes tímidos e curiosos; alguns roíam unhas.

Pensei: devem estar pensando: Nossa, um escritor de verdade aqui!

Pensei: não tem glamour algum, só a dor de trabalhar com as palavras.

Para mim é sempre uma tortura explicar por que escrevo, como surgem as ideias etc.

O processo criativo é um presente, um traço, uma nódoa, um desvio. É portanto um mistério.

Falei disso e de outros assuntos para uma plateia atenta de professoras, bibliotecárias, mediadoras de leitura, crianças e adolescentes. As crianças, quando eu falava do meu conto O sumiço do bolo ou Conto de ibeji, pareciam irradiadas pelos outros erês.

Quando eu falava de um assunto “sério”, uma das crianças peidou bem no meio da sala. Foi aquele constrangimento. As professoras ficaram com “a cara no chão”. Quebrei a agonia do momento falando que ibeji, orixá criança, também solta pum enquanto come bola branca e bebe água suja (ovos e refrigerante). E que todos mundo presente ali na sala soltava pum, inclusive eu.

Rimos muito. E foi assim a fala sobre processo criativo, livros, literatura, bibliotecas comunitárias, direito de ler, democracia, política, infância e juventude, candomblé e outros temas.

Deixe um comentário