CAFÉ DE PADARIA

Ontem fui tomar café na padaria da esquina; em geral sou muito chato com cafés; em geral sou muito chato com muita coisa além do café. Poucos sabem fazer um bom café. É uma ciência, uma espécie de feitiçaria. Ponto. Mas nesse dia fui tomar café na padaria da esquina, cuja intimidade com os funcionários é enorme, afinal de contas compro pão e leite ali faz uns vinte e cinco anos.

Acontece que o acontecimento banal poderia ter continuado assim, banal, se não fosse por três senhoras que adentraram o recinto.

          – Me vê um quilo de carioquinha, disse a primeira e mais baixa para o balconista. Comecei a perceber que o dia não começara bem.

          – Não é carioquinha, é cacetinho, disse a outra de vestido vermelho e cabelos presos em um coque. O coque preso por uma espécie de rede com um laçarote por cima.

          – Nem uma coisa e nem outra, chama-se média ou pão francês, acudiu a terceira, uma negra de pele sedosa, óculos e uma indefectível boina (francesa, é claro!).

          Que trio, pensei com meus botões (estava de camiseta, um calor retado). Olhei para o balconista que estava meio sem jeito e quando foi pegar o saco de papel, a primeira interrompeu.

– Não adianta querer me envergonhar na frente dos outros, eu sei do que estou falando.

– Pois digo que é cacetinho, cada parte do país chama de um jeito!

– A parte do país que eu venho dá-se o nome de média.

– De onde eu venho chama-se carioquinha e ponto final!, disse a primeira estressadíssima. E eu olhando.

– Minhas senhoras, em primeiro lugar bom dia. Em segundo lugar, quantos quilos de pão as senhoras vão querer?

– Põe meio quilo de pão pra mim, falei ao Demétrio, o balconista.

– De macaxeira, mandioca ou aipim?, perguntou Demétrio.

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